quinta-feira, 22 de março de 2007

Oedo Onsen

Antes de mais há que tirar a dúvida da imagem deixada para divinhar, no último post.
Aquilo é um secador de mãos, daqueles que bufam ar quente, tão a ver? Pois, só que lá têm aquele aspecto suspeito :P
Tava eu no quarto de banho a abanar as mãos para elas secarem, quando vejo alguém enfiar as mãos naquela coisa. Prontos, aquilo sopra ar quente dos 2 lados. Ao menos, as mãos ficam completamente sequinhas. Mas faz muita impressão a pressão do ar. Depois, claro, esperei que não estivesse lá ninguém para tirar o raio da foto.... realmente, as figuras que um gajo faz para poder contar as histórias depois!

As onsen são nascentes de àgua quente, bastante apreciadas pelos japoneses, como já expliquei noutro post.
Encontram-se espalhadas pelo país fora, mas a grande concentração encontra-se à volta do monte Fuji. Só que, para aquelas bandas, os acessos são muito básicos e ou se conhece muito bem e se vai de carro ou então numa excursão.
Por isso, eu fui a uma em Tóquio. Só que lá é uma nascente artificial, mas não faz mal.

A Oedo Onsen fica em Odaiba, a baía de Tóquio. Recomendo irem ver o site.
Vai-se de monorail (aqueles comboínhos sem condutor) ou de barco. Como fiquei fã do sítio, fui das 2 formas.


Quando fui de barco, via-se o edifício de uma televisão, já não me lembro qual, que tem uma história muito engraçada. Tinha feito no ano anterior uma 'tour' a Tóquio e lá pelo meio explicavam as curiosidades.

Tão a ver aqueles espaços entre as várias pontes do edifício? Sim? Pois, aquilo tem uma lógica muito específica. Não, não é só pa
ra o estilo. Parece que, antigamente, passavam naquela zona dragões! E, por isso, o arquitecto teve a preocupação de pensar "e se eles voltarem?"... pois, não se podem esbarrar, então. Deixou aquelas aberturas param eles poderem passar!!!!!!... muito bom :)

Voltando à onsen. Cá fora, está-se rodeado de arranha-céus e viadutos e depois lá dentro é outro mundo, até outra época. Ah, ao lado da onsen também existe uma para cães! Ena.

Mal se entra temos que nos descalçar e deixar os sapatos num cacifo. A fita do costume.
Depois, escolhemos a duração da "estadia": pode-se ficar o dia to
do (das 11h às 08h do dia seguinte), só de manhã, só de noite, a partir das 18h (é metade mais barato, por isso fica cheio), a partir das 02h da manhã.
Pedem que se retire qualquer peça de joelharia e, quem tiver tatuagens não pode entrar. Os yakuza têm sempre tatuagens, assim é uma forma simples de evitar confusões.

Dão-nos uma fita de pôr ao
pescoço com um código de barras. De seguida, vai-se ao balcão dos yukata (fino quimono) e escolhe-se um (incluído no preço). São bem giros e há uma grande variedade. Dão-nos também uma toalha grande e uma pequena.

Passa-se para a zona dos cacifos. Bonitos, mais uma vez.
Larga-se lá a mochila e assim. Tem que se andar completamente descalço a partir daí. Dão-nos uma bolsinha para pôr o essencial. E não se pode levar mais nada, além das toalhas, claro. Ah, e por baixo do yukata, nada de roupa interior! É muito estranho ter que andar de "robe" sem mais nada no meio de uma data de gente...

Atravessa-se a "praça", que está decorada à maneira feu
dal, com lojas, restaurantes, diversões de feira. Os empregados estão vestidos também à maneira. Está muito engraçado.

Depois de dada a voltinha, pode-se ir para as massagens - separado quanto aos sexos, mas é engraçado que em ambos os lados são velhotas que fazem as ditas massagens. Excepto nas massagens com esguichos de água :) não percebi lá muito bem o que era, mas aí era uma senhora nova. Embora, qualquer uma das massagens fosse extremamente cara. Dava para espreitar, mas não experimentar.

Ou então vai-se para a zona dos banhos. Existe ao ar livre também e, aí é misto mas é obrigatório manter o yukata, por isso só se molham as pernas.
Dentro, é separado por sexos. Passa-se para outra zona de cacifos, onde se deixa tudo menos a toalha pequena. Entra-se na grande sala dos banhos, finalmente! Eu e as colegas com ia pusemos a dita toalhita a tentar taparnos...p
ois. Não dá. Tem que se andar em pelote!!! Para nós foi um bocado bicudo, apesar de só lá haver mulheres.... mas andar nua em frente a tanta gente? Meu deus, que cena. Tavam as velhotas todas a rir-se de sermos púdicas...
Que filme -_-;
De resto, uma pessoa fica extremamente relaxada. Fica-se ali um fim de tarde na conversa... Vai-se trincar qualquer coisa e volta-se. Há stands que nos lêem a mão, para lançar dardos, para pescar prémios, essas coisas.


Tem-se que tomar um duche à japonesa, lá naqueles banquinhos (ver post salas de banho). Depois de lavadinhos, podemo-nos deslizar para dentro de um dos tanques com àgua a 38º. Muuuuuuuito bom. Há uns baldes de madeira gigantes que são só para uma pessoa, se se quiser estar só. A toalha pequena é para encharcar de àgua e pôr na cabeça ou alguma parte do corpo que esteja ao frio.

Sempre que se efectua uma compra, quer nas lojas, quer nos restaurantes, passa-se o dito código de barras. No fim, já à saída, paga-se tudo.

Valeu a pena. Voltei lá umas 3 vezes.











segunda-feira, 19 de março de 2007

Ser jardineiro

Andava eu a visitar templos e jardins em Quioto quando vi este jardineiro. Enquanto descansava fiquei a olhar, intrigada. Ele só apanhava umas coisinhas muito pequeninas e ficava moooontes de tempo a escolher. Parecia que mal saía do sítio, embora tivesse que recolher daquilo pelo seu pedaço de jardim. E era um grande jardim. Com um bando de jardineiros com aquela tarefa.

Então, no templo Kodaiji têm-se a honra de ver vários tipos de musgo no seu belo jardim! Por isso, eles andam a tratar do musgo para estar em condições perfeitas e retirar todas as ervinhas que só lá estorvam, por muito pequeninas que sejam. Vejam só!!!



Mais à frente, tinham a sua colecção de musgo em exposição. Ena pá!


Mas gabo a pachorra dos gajos... muito sinceramente.


Aqui à esquerda tá o dito templo. Bem bonito :)





Também and
ei uns tempos intrigada com umas botas que certo pessoal lá usava, pois separavam o dedo grande dos outros. Metade das pessoas usam esse tipo de meias, como se vê nos quimonos, mas botas... é muito estranho.
Além de que andavam sempre de fato macaco.


Pois!... São jardineiros! E o raio das botas faz parte do uniforme de trabalho. Sei que a imagem tá tremida, desculpem lá, mas foi tirada no metro (muuuuito discretamente), mas dá pa entender, não dá?


E isto, aqui à esquerda, que acham que é?
Devo dizer que para mim não foi evidente.
Esperei que outras pessoas se aproximassem para ver o que era :P






quinta-feira, 15 de março de 2007

Belos cacifos

Pois é, hoje vou falar de cacifos. Porquê?


Ora, porque os cacifos das estações dos nossos amigos japoneses têm pinta! Até passam meio despercebidos e não são aquela coisa feia a que nós estamos habituados.


... Tão a ver a figura que um gajo faz? Tirar fotos a cacifos numa estação... Mas só contado não chegava!

Mandam pinta, não mandam?

Além de que ao lado de cada bloco de cacifos há uma máquina para trocar notas em moedas. Muito útil! Um gajo tem sempre desses problemas nessas alturas... como é que só os japoneses é que se lembraram disso? Eu não sei, mas admiro-os. Tudo funciona. E dá jeito.


Já para não falar dos cacifo-guarda-chuva! Esses têm piada :)

Vai-se
a um restaurante e deixa-se fora (tapado com um telhadinho) o guarda-chuva no cacifo-guarda-chuva fechado à chave.

Esta é a estação central de Quioto - não dá para ver direito, se calhar, mas é enormíssima tanto em altura como em largura e profundidade: subir aquelas escadas rolantes não é para quem tem medo das alturas (como eu), pois são extremamente inclinadas; além das lojas da estação se estenderem pela praça fora mas na cave - aquilo nunca mais acaba!!!

Realmente eles são óptimos a re-utilizar espaço, visto terem tão pouco. Tão a ver aquelas formas arredondadas escuras? Isso é o 2º andar a que se acede de escadas rolantes. Aquilo tem 5 andares!!! E lá em cima tem uns banquinhos ao ar livre e restaurantes.
O resto do edifício maravilha está cheio de lojas e empresas. Muito simpático, mas é estranho andar num prédio e de repente anda-se ao ar livre naquelas alturas e depois já parece outra vez que estamos dentro de um shopping ou de um centro de negócios...
Cá fora, na dita praça é a central de autocarros e esta é uma das tabuletas com indicações. Muito fixe, o Astro Boy ali para nos ajudar :)

Para quem não sabe, o Astro Boy é uma personagem muita querida dos japoneses pois o seu autor é considerado o deus do manga (bd japonesa): Osamu Tezuka produziu mais de 1500 obras que abordam todos os temas possíveis, além de ter sido ele a inventar a característica "universal" aos mangas - os olhos grandes. Mas falarei dele mais especificamente noutra altura.


Todo o tipo de informações/indicações está sempre escrito em japonês, inglês e coreano. Ajuda!


E que acham deste caderno que comprei? Tem um engrish fantástico :P

Voltando aos cacifo-guarda-chuva, não acho que seja necessária a chave lá com aquele pessoal...

Quando lá fui a 1ª vez, o meu pai foi comigo 1 semanita para ver onde me largava exactamente do outro lado do mundo e o meu japonês não era fantástico, depois de uma longa viagem de 13 horas de avião e mais 3 de "shinkansen" (=TGV), eis senão quando reparámos que nos tínhamos esquecido da máquina fotográfica no dito shinkansen!!! A máquina fotográfica! Era digital, novinha... enfim, tão a ver o filme. E estavamos numa terra no meio de nada, pois era para lá que eu ía, onde ninguém sonhava em falar inglês! Pois, o stress!

Depois de várias horas a tentar explicar a situação e de alguns telefonemas, um senhor escreveu num papel ao meu pai "a secção dos perdidos e achados" em japonês e disse-lhe para no dia seguinte de manhã se dirigir a Nagoya, que era a cidade grande mais perto.

O meu pai, que nada sabia de japonês, lá foi, sempre perguntado pelo sítio apontado no papelito. Não é que os gajos tinham lá a máquina fotográfica à espera dele? Alguém tinha reparado e entregou ao condutor do shinkansen! Imaginem! Foram todos muitos simpáticos e prestáveis. Em várias ocasiões, aliás...

Depois em Quioto, é que reparei nos ditos centros de perdidos e achados... meu deus! Parecia uma autêntica agência de viagens - tudo organizadíssimo, computadores, meninas com o seu uniforme à maneira e chapelito e um balcão com um tamanho parvo! Ali , guardam de tudo! Até lenços. E as pessoas vão buscar. Gostei muito. Uma pessoa sente-se segura lá. Pois é.

quarta-feira, 14 de março de 2007

O dia Branco

Ora, o dia Branco ou 'Howaito-dei' (como eles dizem :P) é a resposta ao dia de S. Valentim!

No dia 14 de fevereiro, as mulheres exprimem a sua chama aos homens e hoje, eles vingam-se :P


O dia Branco foi criado em 1965 por um fabricante de marshmallows - daí a cor branc
a.
Este dia permite aos homens, que há 1 mês receberam chocolates, de honrar a amiga ou a a
dmiradora e oferecer-lhes bombons... brancos e.............. num valor 10 vezes superior à prenda dela!!!!!
Muitas vezes eles recusam por causa disso mesmo. Inicialmente era só 3 vezes mais, como ind
ica o nome 'sanbai-gaeshi', mas suponho que evoluiu com o tempo........ coitados.

Agora já não se dá só marshmallows, visto que há muita gente que não gosta, mas qualquer coisa branca como lingerie, lenços, jóias, 'mochi', flores, biscoitos, etc. Ainda bem, viva a criatividade :)

Falei dos mochi, sabem o que é? Não?
São bolinhos feitos de arroz glutinoso (fica uma massa branca) recheados com 'anko' (pasta doce de feijão vermelho) e 1 morango.
Especialmente para o dia Branco, recheiam-se de chocolate branco, o que fica extremente doce, como devem imaginar.

O dia Branco alastrou-se e também é festejado na China, Taiwan e Coreia.

Apesar de já ser uma tradição no Japão, o dia Branco não é tão festejado quanto o dia de S. Valentim: apenas 45% dos homens celebram o dia Branco enquanto que 67% das mulheres festejam o dia de S. Valentim.
Dentro dos 'festejantes', os que celebram o dia Branco são maioritariamente casados enquanto que o dia de S. Valentim é mais apreciado por jovens e, solteiros.

3 em cada 4 mulheres oferece o chocolate ao namorado ou marido mais o chocolate de agradecimento aos colegas, como expliquei no post de há 1 mês atrás.

Dos que participam no dia Branco, 33% oferecem biscoitos, 11% oferecem flores e 55% dão outro tipo de presentes. 71% dos homens presenteiam o dia Branco a 3 mulheres e, os restantes 29% apenas a uma mulher, que bem...

terça-feira, 13 de março de 2007

Ordem no lixo!!!


Ordem? Mas porquê?


Pois, os japoneses até no lixo são organizados! Meu deus....

Quando lá fui a 1ª vez, fiquei numa residência para estudantes e então, além do regulamento normal do dormitório e de boa educação, deram-me um regulamento para o lixo!!!! De 16 folhas, pessoal!


Imaginem, ensinar um gajo a arrumar lixo!

Mas, pelo menos, o regulamento tem uns bonecos giros. Como tudo, em geral, no Japão.

Basicamente, o manual explica-nos que cada coisa vai para um caixote do lixo diferente, amassada ou não, com tampa ou não e o porquê disto tudo.

Portanto, no total, a cozinha comum tinha 10 caixotes do lixo diferentes!! Muito prático...

A cozinha, as escolas, os shoppings, os cafés... em todo o lado. Nem todos terão os 10 caixotes, mas está tudo muito bem organizadinho para não se perder nada , se reciclar e os lixeiros não terem esse trabalho também.

E, em todo lado, está sempre escrito em japonês e em inglês, por isso nem sequer temos a desculpa de não perceber. Está tudo calculado!

Deixo-vos também umas fotos de papel higiénico de cafés :P

As embalagens compram-se nos 'combini' (=diminutivo de 'convinience store') e são todas coloridas. Pode-se escolher o tipo de provérbios, insultos, linhas de engate, os caracteres do alfabeto deles, piadas, astrologia... muito giro :)

*** Mais uma vez, desculpem andar a escrever pouco, mas entre estar de cama e o raio da net andar aos soluços, tem sido complicado***

terça-feira, 6 de março de 2007

Maids Café

**Desculpem não ter escrito esta semana, mas a minha net andou marada...***

Café de empregadas? Sim, mas algo mais do que isso.
'Maids kissaten' ou 'Maids cafe' é o nome para cafés onde só há empregadas, vestidas ao estilo Lolita (ver post Moda Tóquio) e que tratam o cliente por "master", ou mestre se quiserem.

Este tipo de cafés está a fazer um sucesso total no Japão. A sua origem fica em Akihabara, zona mais conhecida por 'Electric Town', como aparece no metro, devido à afluência de lojas de electrodomésticos, computadores, máquinas fotográficas, videojogos, animação...


Assim que se entra num Maid Café, uma empregada é-nos a
tribuída e recebe-nos com um "bem-vindo a casa, meu mestre". Tratam-nos sempre de forma extremamente querida e sorridente. Para quem goste de meninas "cute" ou "kawaii" como se diz em japonês (lê-se cauaí), encontrou o paraíso...

Tanto as roupas como a decoração retratam um pouco a época vitoriana. Chama-se 'moe' a esta mistura de estilo vitoriano com o estilo do uniforme de empregada francesa. Agora, moe também implica 'extremamente querido'. Para aumentar a 'queridez', às vezes, elas usam bandoletes com orelhas de gato ou de coelhinha.

As maids servem o chá, jogam às cartas e fazem os clientes sentirem-se superiores.
Sem ofensa para quem gosta de praxar, mas se existissem cá estes bares, cá para mim não havia tantos abusos nas nossas praxes. É só uma opinião.

Nalguns Maid Café pode-se tirar uma foto com elas por 1000 yen (=7€). Há que render. Noutros fazem massagem nos pés. É à vontade do freguês.

Até a comida fica querida: decoram a comida com molhos e fazem corações, bonecos, etc - para quem goste de ser apaparicado...
Costuma haver uma grande variedade de chás, cafés e achocolatados, como em qualquer outro café (as bebidas deles são excelentes, mas isso fica para outra vez), gelados, crepes, 'omuraisu' (=omelet+rice - é uma omulete fechada recheada de arroz com ketchup a decorar)...

E depois existem os concursos de maids... p
ois, e que raio é isso, pensam vocês? As maids vão em bando, por café, e mostram as suas habilidades: decoração da comida, dançar, sorrir, encher balões, mostrar o seu ar querido, ajoelhar-se no chão e pedir desculpa, fazer massagem aos pés, servir à mesa, andar balançando-se queridamente... enfim, uma data de tarefas, se formos a ver!!!! :P

Visto o sucesso crescente, agora também se encontram Maid Café no Canadá, na China, na Coreia, em Hong Kong e em Singapura.


Deixo-vos algumas moradas de maid café, alguns em inglês, outros em japonês, mas assim ficam com uma ideia melhor:



sexta-feira, 2 de março de 2007

As artes de Gion

Gion (lê-se 'guion') é a zona das casas de chá de geishas, em Quioto.

É em Gion que estão as escolas que as formam e as casas onde depois trabalham.
Antigamente,
quando uma família tinha muitos filhos, as filhas eram vendidas às casas de geishas. Nos dias de hoje, é uma questão de carreira. Carreira em vias de extinção, pois são precisos tantos anos de preparação que já não há muita gente disposta a tal, a não ser que seja um sonho a realizar.

Vai-se para a escola de geishas, chamadas as casas-mãe, desde muito cedo tipo aos 6 anos. E lá aprende-se a arte da
dança, da cortesia, da conversação, da cerimónia do chá, a tocar instrumentos tradicionais... e a vestirem-se e pintarem-se daquela forma. Só o penteado demora horas! E para dormir usam umas almofadas especiais (e desconfortáveis) de modo a não desfazer o dito penteado.

Durante o tempo de estudo são 'maiko' ou aprendiz de geisha. A 'mãe' da casa (patroa) paga-lhes tudo até ao dia em que começam a trabalhar. A competitividade é grande entre as várias geishas de cada casa. Muitas pessoas pensam, erradamente, que as geishas são prostitutas. Haverá quem o faça, mas essa não é a tarefa delas. Aliás, se a 'mãe' descobre tal actividade, a geisha é expulsa da casa de imediato.

As geishas são damas de companhia.
Embora, no
s tempos antigos, a virgindade de uma geisha era leiloada entre os homens influentes da zona. As patroas apreciavam este acto pois o dinheiro ia todo para elas e, caso a geisha não tivesse sucesso no futuro, a patroa já teria reavido grande parte do dinheiro que gastara com ela. Nos dias de hoje, este leilão já não se pratica. Ainda bem. Que horror.

Basicamente o trabalho
das geishas é servir o chá, entreter os clientes com dança e música, concordar e rir com o que eles dizem, sorrir e ser sempre agradável. As geishas não se podem casar. A partir do momento em que o queiram fazer, têm que deixar o seu emprego.

Como muitos bares, clubes e assim no Japão, as casas de chá estão proibidas aos estrangeiros.
Como o nível de vida lá é muito caro (Tóquio é a cidade mais cara do mundo!!!) comparando com qualquer outro sítio, eles preferem que a entrada aos "tesos" dos estrangeiros seja completamente barrada para nunca haver chatices. Que cena.

Mas mesmo entre japoneses, não é qualquer um que entra numa casa
de chá. Ah, pois não. É preciso que um 'habitué' da casa leve um amigo e que o apresente à patroa, só depois é que podem entrar nas salinhas de convívio (de portas de papel de arroz, de correr, fechadas) e apresentá-lo às geishas de preferência. Ninguém entra lá porque se lembra de experimentar. Não. Tem que se seguir as regras todas. Para variar :P

Fui 3 vezes a Quioto. Claro, na esperança de ver geishas em Gion, como qualquer turista...
Da 1ª vez não vi uma única e os bares tinham as entradas de acesso bastante complicado. Vi foi
muitas meninas com ar de prostitutas. Foi muito estranho. Mas em contrapartida, passei numa rua em que estava a decorrer um 'o-bon' (uma festividade de verão).

Da 2ª vez decidi fazer uma visita guiada. Paga-se um tanto, anda-se no dito autocarro feitos tótós, mas ao menos tinha a certeza do que ia ver. O 'tour' era durante o serão e incluía a cerimónia do chá numa ryokan, ver as casas-mães por fora, e ir ao Gion Corner que é um teatro de representações tradicionais como Ikebana (arranjo floral), cerimónia do chá, teatro cómico, Bunraku (teatro de marionetas), música tradicional (shaminsen) e, por fim a dança de geishas.
Estão a ver na imagem aqui em baixo à dta. um quadro verde? Está colocado lá no Gion Corner e cada uma daquelas barrinhas representa os elementos do currículo da cada geisha, que vai representar nesse mês. É engraçado, não é?


Estão a ver a menina de yukata azul? Está-nos a oferecer a nossa 'boa-fortuna', nos papelinhos. A foto por baixo dela, uma casa em amdeira, tao a ver? A parte de baixo mais inchada e mais clara, antigamente servia de tapete: as pessoas raspavam ali os sapatos antes de entrar. Que cena. A entrada que está ao ladinho é de uma dita casa de chá.

Valeu bem a pe
na, aconselho-vos. Pois não é qualquer que vai ao Gion Corner - é caro.

Da 3ª vez, já não fui a Gion mas tive sorte na mesma :) Nas ruas em direcção ao templo Kyomizudera, lá andavam 3 geishas a passear. Foi montes de engraçado, os turistas todos a correr para as apanhar de frente (como eu, pois)...
E depois, na GRANDE estação de comboios de Quioto também anda
va uma a distribuir panfletos.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Como nasceu o chá??


Antes de chegarmos ao dito chá, vou responder ao post anterior que deixava uma pergunta em stand-by.

O fulano com o cartaz o dia todo é um agente de imobiliário que faz publicidade assim na rua, da zona em questão. Quer faça chuva, quer faça sol, lá está ele. Demorei um pedaço a entender o seu propósito. Coitado. Deve haver meses inteiros em que ninguém se dirige a ele, digo eu.

A menina de mini-saia não é mais do que uma distribuidora de lenços. Pois é.
As meninas de roupa justinha estão a distribuir preservativos! Essas, sim, estão vestidas à maneira :P
E a menina do m
icrofone está a fazer publicidade a uma operadora de telemóveis, a "Au". O laranja é a cor deles.

Voltemos ent
ão ao chá.
Não sei se já ouviram falar do Daruma (uma espécie de amuleto)?

Conta a lenda que um grande apóstolo indiano do budismo, o Daruma (lê-se 'darumá'), foi à China pelo século VI e para os montes foi meditar.
Envolto em contemplações místicas era
lhe proibido dormir. Esteve, então, anos sem dormir. Esteve tantos anos sentado na mesma posição que se lhe gastaram as pernas. Daí a forma do amigo vermelhinho aqui ao lado. É a figura da cabeça e tronco, com os braços aconchegados para dentro e sem pernas, envolvido por um manto vermelho.
Claro que
um dia o desgraçado adormeceu! Tão furioso acordou que cortou-se a si próprio as pálpebras para nunca mais acontecer um tal erro! Atirou-as para o chão com despeito mesmo.

As pálpebras, por milagre, ganharam raíz e daí nasceu uma bela planta nunca então vista. As suas folhas, tratadas de infusão pela água quente, tornaram-se um remédio contra o sono e o cansaço.
E assim nasceu o chá! Que em japonês se escreve 'cha' e se lê 'tchá'. A palavra portuguesa vem de lá. As outras línguas vindas do latim dizem todas 'té' - em espanhol, italiano, francês - menos nós. Aí está.

Reparem que o Daruma não tem os olhos desenhados.
Pois é. Nós temos que pintar um e fazer um desejo. Só quando este se realizar é que podemos pintar o outro e deixar um Daruma terminado. Daí ser um amuleto.
Também existe a sra. Daruma, mas não sei qual a lenda para ela.

Li esta história no livro "O culto do chá" do nosso amigo Wenceslau de Moraes. Falarei dele pois contribuiu para a divulgação da nossa cultura com os japoneses e vice-versa (finais século XIX), mas isso fica para outra altura :)