domingo, 24 de outubro de 2010

Spa para vaquinhas


Pois é, depois dos cães e gatos, é a vez das vaquinhas ^^;

Bom, não é exactamente pró mesmo efeito, mas tem piada na mesma...

As vacas de Kobe têm um tratamento especial: cada quinta tem no máximo 10 vacas e estas seguem uma dieta rigorosa com cereais orgânicos, cerveja nacional e sake :P

 A vida destas vaquinhas é passada num local com temperatura ambiente controlada, música clássica, cerveja no verão, massagens, e escovadas com sake!!!
E porquê?

Ora, estava eu num restaurante carote num dia especial, quando reparo que na ementa diz "bife Kobe Wagyu", bom, cheirou-me a japonês e resolvi pedir. Aproveitei e perguntei ao empregado como era.

É, efectivamente, carne de vaca japonesa muito específica (e cara, sim) pois é extremamente tenra e saborosa. 

Quase que se desfaz na boca! Mas não fica papa, parece que derrete na língua ^^;
Então resolvi pesquisar o porquê do bife ser japonês e descobri a fita do "spa" para vaquinhas: 
1º: elas recebem massagens para relaxar os músculos pois essas  quintas não têm o espaço normal para elas andarem a exercitar à vontade, além do terreno ser caro no Japão, não é?

2º: a dieta específica serve para elas terem vários tipos de gordura, saudável, o que lhes garante mais suavidade :P

3º: a cerveja serve para estimular o apetite, pois no verão ficam sem ele.

4º: a escovagem com sake porque passa através da pele e torna a carne mais macia e saborosa :P

Como as regras de produção são muito específicas, só há vacas tipo Kobe no Japão, e actualmente, na Nova Zelândia, na Argentina e na Austrália.
Um pouco semelhante ao que acontece cá com a carne barrosã DOP (que se come no restaurante japonês Gosho).

Só para terem uma noção do preço do bicho, um quilo chega a custar 270€!

Pelos vistos, também é difícil de cozinhá-la... é preciso muita perícia para não a estragar, mas a esse preço não me atrevia a fazer a experiências >.<

Podem sempre ir aqui ver vídeos das vaquinhas no seu spa...

E mais uma curiosidade: nos tempos de guerra no Japão, o soldados levavam de casa alguns bifes para se manterem fortes. Quando voltavam da guerra, vinham cheios de fome desses bifes-maravilha. 
Mas os anciães das aldeias achavam um sacrilégio comer bife dentro de casa pois era um insulto aos antepassados (que não tinham esses hábitos). 

Por isso, eles cozinhavam e comiam os bifes fora, junto aos arados. Graças a esta fita, cozinhar e comer bife passou-se a chamar Sukiyaki, que significa à letra 'cozinha no arado'. Só depois da restauração Meiji (em 1868) é que deixou de haver este estigma em relação a comer bife.

O sukiyaki é um prato japonês que eu adoro ^^ mas falarei disso noutro post...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Hokoten


Hokoten é o diminutivo para Hokousha Tengoku, que à letra significa 'paraíso pedonal', mas na realidade refere-se à animação de rua.

E com animação, quero eu dizer mesmo grupos de música espalhados pelos passeios fora. Achei o máximo o ambiente que isso dá na rua! 

Tropecei em alguns em Shibuya e em Shinjuku. Mooontes de gente a assistir! Na altura, pensei que se tratasse de algum evento naquele dia...

Mas não. 
Em certas zonas de Tóquio, à noite, as ruas enchem-se de grupos de música amadores a fazerem-se conhecer ou à espera de serem fisgados por alguma editora de música.

Muitos começam assim. Vão para a rua cantar e tocar. Não querem dinheiro, querem mas é fãs. Com o crescer da multidão, crescem os fãs. E quanto mais fãs, mais se entusiasmam e fazem CDs que vendem na rua. Eventualmente, sai-lhes a sorte grande.
No entanto, isso acontece com muito poucos :(

Pois, este tipo de publicidade funciona muito com o "passa-a-palavra" e, os japoneses não comunicam muito nesse aspecto...por outro lado, as redes sociais vieram dar uma ajudinha nesse campo.

De qualquer forma, a vida é dura pois até conseguirem qualquer tipo de contrato, tem que ser o próprio grupo a financiar os CDs ou merchandising, ou até os bilhetes para pequenos concertos que consigam dar nas raibu-hausu (=live-house ~ casas que alugam palcos). Visto que também não têm poder financeiro para fazer publicidade em rádios ou tv. E são, obviamente, os próprios que têm que carregar o material todo para o meio da rua.

Além de que conseguirem fazer-se ouvir bem num passeio cheio de barulho citadino, como o do trânsito ou das pessoas a passar, requer também algum barulho da parte deles.
 
Os 'hotspots' para estes hokoten são: em Shinjuku junto ao edifício Alta (chama-se mesmo assim); em Shinjuku junto à loja Gap; no parque de Yoyogi; no caminho junto à Tokyo School of Music; na saída Este do metro em Ikebukuro; à saída do metro de Takadanobaba (onde tive o meu curso de japonês ^^); junto aos autocarros em Akihabara; debaixo da ponte de comboio em Shimokitazawa; no cruzamento de Shibuya até à estátua de Hachiko;  e no grande parque Ueno.

O que é mais fixe, é que além de ser de borla para quem passe na rua, ouve-se todo o tipo de música ali: punk, alternativa, techno, hip-hop, jazz, death rock, speed metal, bubble-gum, grunge, blues, etc.

É mesmo para todos os gostos e sentimo-nos como se tivessemos ido a uma data de concertos numa única noite :)

Visto que as minhas fotos não ficaram fantásticas (à noite e sem flash), deixo-vos links de quem conseguiu filmar com jeitinho: o vídeo abaixo dos Toy Missile ou vários no youtube.

sábado, 2 de outubro de 2010

Noren

As noren são umas cortinas japonesas utilizadas para separar divisões, como as portas, mas dando um ar engraçado ^^  
É sempre uma cortina com um corte a meio e, com um desenho com algo tradicionalmente japonês.

À partida, parece esquisito, eu sei, mas lá vê-se em todo os sítio que tenha uma cozinha, seja restaurante, seja numa casa. Ou então, na separação entre loja e sala do staff, ou zona de cacifos e espaço público, ou nos banhos públicos. 

Mas dá um ar muito engraçado ao espaço. Não sei se já tiveram oportunidade de ver isso em restaurantes japoneses...


É um costume que veio do final da época Heian (séc. XII), em que se colocava isso para mostrar que uma loja estava a funcionar. E, assim que a loja fechava, também a noren era retirada. 

Nessa altura, cada cortina tinha apenas o desenho do objecto que vendiam, mas com o tempo começaram a elaborar ilustrações mais apelativas. Ás vezes, também se usavam como nós usamos as nossas cortinas, para impedir o sol ou o vento de entrar pelo estabelecimento.


Com as portas cada vez mais resistentes, as noren cairam em desuso durante uns séculos. No entanto, hoje em dia vê-se em todo o lado :) 

Antigamente mediam 114 cm de comprimento e nos dias de hoje tendem a ter 160 cm (ou seja, 1 cm a menos que eu :P)

O tipo de tecido ou ilustração da noren indica-nos logo o estatuto social ou o tipo de estabelecimento a que pertence, como as placas das lojas, no fundo. No entanto, as noren dão um toque mais tradicional.


Em geral, as noren divididas em 3 vêem-se mais nos restaurantes rápidos ou nas tascas ambulantes, enquanto que as que se dividem em 2, vêem-se mais em casas. 
Agora, não se utilizam no exterior, como antigamente. Usam-se mais para mostrar que há secção da loja ou da casa que é privada. 


Por outro lado, também são óptimas lembranças: bonitas, originais, leves e baratas :)


Uma coisa que demorei a perceber foi por que raio nos banhos públicos (onsen) têm sempre as noren com o caracter 'yu' em hiragana. Sempre! 

Ora, porque o caracter para 'àgua quente' também se pode ler 'yu' e, é muito mais fácil de pôr em tecido o ゆ do que 湯 . Espero que consigam todos ler o que escrevi em caracteres aqui >.<


Eu tenho 2 norens: um pequeno de 3 divisões com a Hello Kitty que comprei em Quioto, e um grande de 2 divisões com um enorme kanji tirado do anime Hakuouki Shisengumi Kitan.
Não os tenho postos em lado nenhum, pois não tenho apoios para os dependurar, o que é uma pena, pois ficariam pintarolas ^^


Se quiserem ver mais fotos na net, podem ir aqui.